A história de como jogos paralelos funcionam no Dreamcast
sempre surpreende quem é novo no pedaço, já que a maioria dos consoles possuem
algum tipo de proteção por hardware ou software e necessitam de algum tipo de
desbloqueio físico. Neste artigo abordaremos moderadamente sobre o surgimento,
seus usos na prática e os diferentes tipos de boots que surgiram.
Tudo começou quando um grupo de hackers chamado “Utopia” descobriu uma falha de segurança no código do console fazendo engenharia reversa, que possibilitou o uso de softwares caseiros (homebrews) no Dreamcast. Eles alegaram que o último recurso que utilizaram foi verificar todos os formatos aceitos pelo console, como GD-ROM, GD-R (apenas para uso restrito pelos produtores), CD-DA (CDs de música), e por último o “MIL-CD”.
O MIL-CD não é nada mais que um formato baseado no CD-ROM, cujo conteúdo é voltado para tarefas multimídia no mais novo console da Sega. Esse formato seria a evolução do CD de música, mas com menus avançados, suporte à Internet, e até assistir à vídeos em tela cheia como em um VCD.
Eles estudaram como esse tal MIL-CD se comportava no Dreamcast, já que esses discos executavam de uma forma intrigante (até porque era um CD-ROM) e começaram a fazer seus testes modificando a estrutura dos jogos para enganar o console, fazendo-o reconhecer como um MIL-CD e pimba, deu certo!
Foi assim que surgiu o famoso “Utopia Boot Disc v 1.1”, porém a polícia estava atrás desses hackers e conseguiram prendê-los graças a uma foto que postaram (não lembro onde) para mostrar ao mundo sua façanha inédita de quebrar o que a Sega chamou de “segurança perfeita contra a pirataria”. Essa foi a porta de entrada para outros hackers se aventurarem com essa descoberta e fazerem seus próprios programas e “ripagem” dos jogos originais.
Funcionamento do Utopia, o pioneiro
Muito simples!
1- Grave
o programa (Boot) em um CD-R.
2- Coloque
no console e ligue.
3- Aparecerá
a tela pedindo para que abra a tampa e coloque o jogo a ser executado (pirata
ou original).
O Boot Utopia foi feito pensando em carregar apenas jogos e programas caseiros EM CD, mas possibilitou como conseqüência o uso de GDs de outras regiões, burlando o bloqueio regional.
Como a polícia prendeu o grupo original, outro grupo pegou o software que o Utopia fez e decidiu modificá-lo (creditando o Utopia), já que o original não dava boot em modo VGA (funcionalidade para usar o console em um monitor de computador), apenas em modo RF/composto/s-video.
OBS: Mesmo que
você force bootar um jogo, o monitor não retornará imagem mesmo com o jogo
rodando.
Notem que todos eles fazem referência a CDs e “Backups”, é
mais que uma evidência de que esses “Boots Loaders” foram pensados apenas em
programas caseiros e jogos paralelos. Em diversos sites, esse mesmo boot v1.2 é
oferecido como versões 1.3 e 1.5 quando não são.
OBS sobre o modo VGA:
Use-o normalmente, a ilustração acima é a tela que pede para substituir o
disco, porém ela não exibirá e o monitor/TV dará mensagens como “Fora de
sincronia” ou “Fora de faixa” aguardando que o sinal se restabeleça. Apesar de
estar assim, o console está virtualmente nessa tela pedindo a troca do disco, então
coloque o jogo desejado, feche a tampa e aguarde o carregamento que a imagem
voltará a exibir.
OBS 2: Notem que também nem todos os jogos possuem compatibilidade com VGA mesmo usando esse truque do boot v1.2 e eles sendo originais. Notem que jogos gravados ou prensados em CD muito antigos não tem patch para forçar o modo VGA.
Pergunta: Esses CDs dão boot em tudo?
Resposta: Nem
tudo, alguns jogos japoneses funcionam com glitches, ou nem funcionam no
console americano/nacional/europeu. Alguns jogos como The House of the Dead 2,
Phantasy Star Online, e Marvel vs Capcom são incompatíveis com esses dois
boots. Diante da quantidade de jogos, eu diria que uma pequena fração tem esses
problemas de compatibilidade.
Gameshark / Action Replay
Também possui função de boot para jogos originais com o diferencial de ser um programa de trapaças,
mas sofre do mesmo mal do “Utopia 1.2”.
Exemplo: Você
quer jogar Resident Evil Code Veronica (versão mais comum é a que precisa de
boot) com códigos de Gameshark ativados, mas como o Gameshark não dá boot em
jogos piratas, você terá que rodar o boot utopia logo após o Gameshark, e então
colocar o Code Veronica logo após o Utopia. Resumindo em passos (1-GS,
2-Utopia, 3-Jogo).
Exemplo 2: Você quer jogar o Biohazard Code Veronica mas seu console é americano e o GD é japonês. É possível carregar o jogo logo após o Gameshark, já que ele possibilita o desbloqueio regional diretamente sem precisar do Utopia. Em passos (1-GS, 2-Jogo).
DC-X
Mais outra opção de Boot Loader para o Dreamcast. Ele
carrega jogos piratas e originais de todas as regiões sem os problemas que os
programas anteriores possuem.
Xploder DC / Code Breaker
O Code Breaker é a solução definitiva para jogos paralelos e
originais, já que boota com perfeição tudo o que você colocar em seu Dreamcast.
Para bootar jogos paralelos, um passo extra de 10 segundos a mais é necessário
com o chamado “Code Breaker Boot”. Já o Xploder DC que foi citado, é o
antecessor do Code Breaker.
DC-IE (Dreamcast Import Enabler)
Pouco se sabe sobre este programa, mas aparentemente é só
mais um Boot Loader para GDs de diferentes regiões e nada mais que isso.
O Selfboot e a aposentadoria dos jogos “Non-boot”
Logo após a descoberta feita pelo grupo Utopia como mencionamos
lá atrás, outros grupos passaram a estudar sobre o Dreamcast e o pioneiro na
técnica Selfboot foi o grupo Kalisto/Echelon, que lançou o primeiro jogo dispensando
o uso do Utopia Boot Disc. Isso permitiu que jogos paralelos funcionassem
diretamente no Dreamcast, contendo CD-DA (músicas que são tocadas até em CD
Players) ou não.
Finalizando
O uso de um Boot Loader no Dreamcast se faz desnecessário
para jogos paralelos desde a metade da década de 2000, visto que muitos sites
de distribuições de ROMs e ISOs disponibilizam versões mais atualizadas (e
otimizada) dos jogos já bootáveis. Eles
são bastante procurados para quem pode bancar jogos originais.
Para quem não faz questão de ter jogos prensados das antigas, ou mesmo jogos em CD-R da época, basta procurar uma ISO nova para substituir o seu jogo que ainda necessita do uso do Boot.
Ficou curioso para saber o que a Sega fez depois que os Hackers descobriram a falha de segurança do Dreamcast?
Bom, aqui vai o ocorrido:
A Sega ficou furiosa com isso, a Sony então, nem se fala! A Sony processou a empresa por trás do “Bleem! For Dreamcast” — um emulador de PlayStation que foi lançado nas versões Metal Gear Solid, Tekken 3 e Gran Turismo 2.
A Sony cobrou medidas da Sega também e ela acelerou seus engenheiros para entregar as correções na arquitetura do console para que ele não lesse mais o formato MIL-CD. Esses novos consoles foram lançados misturados em um lote de Outubro de 2000, mas era garantida sua fabricação nos consoles fabricados em Novembro de 2000. De qualquer maneira, o estrago já estava feito para a Sega, e poucos consoles com essa versão nova da Bios foram fabricados e você não precisa se preocupar com isso.
Há relatos que esses consoles ainda reconhecem jogos no
formato MIL-CD, mas a técnica de selfboot precisa ser feita no método DATA/DATA
e não o método AUDIO/DATA, o mais simples de fazer.
Por Daniel S
Por Daniel S
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